Estamos em torno de 1870. O Sacro Império Romano-Germânico já foi dissolvido há mais de 50 anos. Mas estamos a um ano da unificação alemã, fato que ocorreu a seguir à vitória da Prússia diante da França de Luís Bonaparte (sobrinho de Napoleão). As consequências da Guerra Franco-Prussiana não representarão, de maneira alguma, ausência de prosperidade no Segundo Império (Segundo Reich). Pelo contrário, o desenvolvimento industrial na Alemanha unificada está à toda. É a época da derrocada da produção artesanal e do patente crescimento da produção mecanizada e, portanto, em larga escala. Centenas e centenas de firmas voltadas para a produção de móveis ou brinquedos de alta qualidade acabam sendo fundadas. Daí o nome dessa época ser a Era dos Fundadores, em alemão, Gründerzeit.
Convém ainda destacar que o desenvolvimento industrial na Alemanha nesse período tem muito a ver com os altos montantes de dinheiro advindos do pagamento de reparações de guerra que os alemães impuseram aos franceses. São 4 bilhões de marcos!!!!
Encenação pomposa
A auto-estima do alemão, portanto, está nas alturas. Um país finalmente unificado e rico, que saiu vencedor de uma guerra contra um inimigo poderoso. O fato é que na vida das cidades que não param de crescer, não basta aos novos ricos embelezarem o interior de seus apartamentos. É importante trazer para fora essa beleza, ou seja, construir edifícios imponentes com belas fachadas. Quando falamos de novos ricos, estamos nos referindo à alta burguesia que surge com o galopante desenvolvimento industrial na Alemanha. Uma camada social que passa a adquirir prestígio, não pelos elos do passado, como é o caso do prestígio da nobreza, mas pela riqueza financeira acumulada do trabalho em suas fábricas.
No entanto, apesar de se tratar de uma nova camada social que aspira ao poder, seu gosto, suas referências estéticas ainda têm muito a ver com o passado glorioso alemão das cortes, ligado, claro, ao poder da nobreza. Por isso, os novos edifícios que embelezam as ruas das cidades alemãs têm fachadas de estilos bem diversos, como o renascentista, o rococó, o barroco ou o classicista.
Ecletismo ou Historismo
Não é de se surpreender que elementos característicos desses estilos apareçam tanto em móveis como em fachadas de prédios. É muito comum vermos cariátides, hermas ou colunas, sejam elas dóricas, coríntias ou jônicas fazendo parte da estrutura das fachadas. Por isso é que o alemão chamará essa bricolagem de Historismo. Nós chamamos este estilo de Ecletismo. Como o nome já diz, trata-se de um movimento de recuperar e mesclar estilos históricos do passado. Já não se constroem edifícios renascentistas, mas neo-renascentistas, assim como neo-barrocos, neo-rococó ou neoclássicos.
Essa era da Arquitetura não deixou de ser severamente criticada. Principalmente pelo pretensiosismo e esnobismo que existia por trás desse elan da alta burguesia. Apesar disso, muito dessa pompa resta intacta (e restaurada), a despeito da Alemanha ter provocado e sofrido as consequências das destruições de duas terríveis guerras. Cidades como Munique ou Berlim são ótimos exemplos onde bairros todos ainda existem tomados por belos edifícios da Era dos Fundadores. Um ótimo exemplo é o bairro de Prenzlauer Berg, na antiga Berlim Oriental.
A busca pelo novo e o fim da era eclética
Com a chegada do século 20, edifícios ecléticos continuam sendo construídos. Porém, as críticas se asseveram, sobretudo por parte de uma camada intelectual e artística que clama pelo novo, pelo futuro, em detrimento do antigo, do passado. Já não se exalta a pomposidade de um prédio, mas sim sua funcionalidade. Drásticas reformas na Arquitetura, reflexo de mudanças nas Artes em geral, tomam corpo. Um ótimo exemplo disso será o movimento inglês “arts and crafts” ou então o estilo Art Nouveau, que será batizado na Alemanha de Jugendstil. Mas isso é história para um outro post.