Começamos uma série de artigos sobre as obras imperdíveis da Antiga Pinacoteca de Munique. Nossa intenção é, com esses posts, orientar sua visita a este que é um dos mais interessantes museus da capital da Baviera. Damos início a essa série com obras de pintores flamencos.
Um pouco de história
Muitas das obras imperdíveis da Antiga Pinacoteca de Munique já estão por lá desde 1836, ano de sua inauguração. Sua construção foi comissionada pelo rei Ludwig I, da Casa dos Wittelsbach, junto ao arquiteto do então jovem Reino da Baviera, Leo von Klenze. Ao todo, são 700 obras pertencentes ao museu. Com os pesados bombardeios aliados em Munique, a fachada principal da Antiga Pinacoteca foi severamente danificada. O importante é saber que as obras já não se encontravam no museu quando ocorreram os bombardeios. Quando, em 1957, a Antiga Pinacoteca estava novamente aberta ao público, não se via no novo prédio qualquer sinal de reconstrução por parte do arquiteto Hans Döllgast, mas sim de restauração. Os efeitos maléficos da Segunda Guerra ficarão para sempre no visual do museu.
Pois bem, vamos ao que interessa e falemos de algumas obras de pintores flamencos que merecem ser contempladas na Antiga Pinacoteca.
1) Pieter Bruegel, o Velho, A Cocanha (1567)
Durante a Idade Média, era muito comum contar-se a história de um país mitológico chamado Cocanha, local de libertinagem e pecado. É o que Bruegel retrata nesta pintura. Para os que querem ter uma ideia de quem eram os atores sociais da Idade das Trevas, pensados por um artista que vive no século 16, claro, basta observar as três figuras deitadas: o cavaleiro, o camponês e o nobre. Bruegel parece querer nos dizer que os pecados capitais, aqui a gula, não são atos de uma camada social específica. Pelo contrário, é nesse momento que todos os humanos se igualam.
2) Peter Paul Rubens, O GrandeJuízo Final (1617)
O Grande Juízo Final é o maior óleo sob tela concebido por Rubens. Para se ter uma ideia, suas dimensões são de 6m de altura por 4m de largura. A obra pretende ilustrar a gloriosa aparição de Cristo no Dia do Juízo. Rubens logra trazer todos os elementos necessários para retratar o episódio: os abençoados sendo levados aos céus e recebidos por figuras bíblicas à esquerda da tela. Assim como está claro o fim dos pecadores, que é serem levados ao inferno à esquerda. Não deixem de reparar no demônio representado no lado direito da tela. Como ponto alto da composição, a Santa Trindade. Sem dúvida, uma obra-prima.
3) Anthonis van Dyck, Auto-Retrato (1620-21 e 1627)
Citamos duas datas para essa obra, pois ao que tudo indica, van Dyck acabou, em 1627, depois de sua visita à Itália, fazendo “retoques” na obra “original”. Estudos minuciosos tornaram possível essa constatação. Originalmente, a mão do artista dirigia-se levemente ao seu queixo. No entanto, inspirado no exemplo das pinturas italianas, van Dyck coloca sua mão paralela à borda da tela. Sem contar a corrente de seu ombro esquerdo. Presente de um nobre de Mantua, ela não existia na concepção original e só aparece no retrato posteriormente.
4) Jacob Jordaens, Sátiro e Camponeses (1620-21)
Jacob Jordaens, assim como Rubens, foi aprendiz de Adam von Noort. Os motivos que mais pintou foram ligados aos contos da mitologia e isso está claro na obra Sátiro e Camponeses. Enquanto camponeses se sentam à mesa para comer, acabam recebendo a visita de um sátiro. Um deles esquenta sua mãos, assoprando-as. Em seguida, assopra a sopa que está a tomar com intuito de esfriá-la. O sátiro no quadro sugere um ato de fuga, já que toma consciência do perigo da ambiguidade humana.
5) Gerard van Honthorst, Estudante debochado (1625)
Van Honthorst pertence ao grupo de pintores flamencos também conhecidos como os “Caravaggistas de Utrecht”. Por ocasião de sua visita a Roma ao lado de Hendrick ter Brugghen e Dirck van Baburen, Honthorst admirou-se com a “magia” das pinturas de Caravaggio, sobretudo por sua espetacular forma de trazer realismo aos seus quadros, usando-se de um jogo de luz inigualável. Em Estudante debochado, van Honthorst retrata um motivo bastante frequente nas pinturas do início do século 17, no qual homens e mulheres vestidos elegantemente ouvem música em encontros noturnos.
Vários são os elementos que nos fazem entender que o rapaz é um estudante, como o globo à sua esquerda, ou então o livro aberto. Sabe-se, também, que mulheres com roupas muito coloridas são prostitutas. A casamenteira, à esquerda da tela, representa a admoestação ao estudante: ela segura um bebê com o nariz parecido ao do rapaz… Trata-se, por fim, de uma obra com fundo moral bastante preciso.
Boa visitação!